Games e saúde mental: jogos como uma ferramenta terapêutica

Falar sobre games e saúde mental é abrir espaço para um assunto que ainda carrega muitos tabus, mas que pode ajudar demais na forma como lidamos com as emoções.

Durante muito tempo, os videogames carregaram uma reputação complicada. Muita gente associava os jogos a vício, isolamento e até comportamentos violentos.

Era comum ouvir que “jogar demais faz mal” ou que “games deixam as pessoas agressivas”. Sem contar o clássico “desliga o videogame que vai estragar a TV”, mas isso é papo para outro dia.

Bem, felizmente, hoje o cenário é outro. Existem estudos e profissionais da saúde mental que enxergam os games sob uma nova perspectiva: como uma possível ferramenta de apoio emocional.

E é claro que as pessoas da comunidade têm muito a contribuir para essa visão!

Jogos, saúde mental e a importância de falar sobre isso

Como qualquer forma de entretenimento, os jogos podem ser prejudiciais se usados de maneira exagerada ou como forma de fugir de problemas sem buscar ajuda. Mas quando bem dosados, eles também podem ajudar muito.

Jogos podem estimular o foco, aliviar o estresse, criar conexões sociais e até melhorar o humor de quem joga. Aliás, para muitas pessoas, os games funcionam como um espaço seguro, onde é possível relaxar, se expressar e até trabalhar habilidades emocionais sem nem perceber.

A ciência está cada vez mais interessada nessa relação entre videogames e saúde mental. Inclusive, alguns profissionais usam jogos digitais como parte de processos terapêuticos, especialmente com adolescentes e jovens.

E esse uso não se limita à diversão: existe um potencial real de ajudar no bem-estar emocional, na regulação do comportamento e na socialização.

Hoje nós vamos explorar justamente esse lado: o uso positivo dos jogos como uma ferramenta que pode contribuir para a saúde mental, olhando com atenção para o que já sabemos e o que a ciência tem descoberto nos últimos anos.

O que dizem os estudos sobre games e saúde mental?

Não é só conversa de quem curte jogar: a ciência realmente tem apontado os efeitos positivos que os videogames podem ter na saúde mental.

Vários estudos, nacionais e internacionais, mostram que os jogos digitais conseguem ir muito além do entretenimento.

Por exemplo, um estudo publicado em 2024 na Nature Human Behaviour mostrou que os games podem ajudar – e muito – no controle do humor e no alívio do estresse.

Segundo os pesquisadores, esse efeito positivo pode vir de vários fatores: a sensação de conquista que um jogo oferece, as conexões sociais criadas entre as pessoas que jogam, e até aquele escapismo saudável que a gente busca quando precisa dar um tempo da vida real.

É como uma “pausa mental” para quem está sobrecarregado.

Outro ponto importante é a socialização. Os games conectam pessoas com interesses em comum. E isso vale muito, principalmente para quem tem dificuldade de se expressar no mundo real – euzinha.

Estabelecer vínculos, trabalhar em equipe e sentir que se faz parte de uma comunidade pode ter um impacto enorme no bem-estar emocional.

Além disso, a sensação de progresso que os jogos oferecem, como subir de nível, vencer um desafio ou desbloquear uma conquista, pode aumentar a motivação e a autoconfiança.

É um reforço positivo que, mesmo dentro de um ambiente virtual, gera efeitos reais.

Mas é importante lembrar: isso tudo funciona quando o uso é equilibrado. Assim como outras atividades, jogar em excesso ou como única forma de lidar com emoções difíceis pode ser prejudicial.

O segredo está no equilíbrio e, principalmente, na forma como cada pessoa se relaciona com os games.

Games e neurodiversidade: TDAH, autismo e a potência dos jogos

Quando o assunto é neurodiversidade, os games também podem ser grandes aliados.

Pessoas com TDAH ou TEA (Transtorno do Espectro Autista) muitas vezes enfrentam desafios relacionados à atenção, socialização e coordenação motora, e é justamente aí que os jogos entram como uma ferramenta que pode fazer a diferença.

Em um estudo publicado na Sociedade Brasileira de Computação em 2023, os pesquisadores investigaram os benefícios e habilidades que podem ser adquiridos por pessoas neurodivergentes por meio dos games.

Quando bem escolhidos e usados com moderação, os jogos conseguem ajudar no desenvolvimento do foco, da paciência, do raciocínio lógico e até das habilidades motoras finas em crianças e adolescentes com TDAH e TEA.

Para pessoas com TDAH, por exemplo, jogos com objetivos bem definidos e recompensas rápidas podem manter o interesse e estimular a concentração de forma mais eficaz do que outras atividades.

No caso de quem está dentro do espectro autista, os games também podem ser uma ponte importante para a interação social.

Jogos cooperativos, que envolvem comunicação com outras pessoas jogando, criam um ambiente mais controlado e previsível – algo que muitas vezes ajuda quem tem dificuldade com interações presenciais.

É uma forma de socializar no próprio ritmo, com menos pressão.

Além disso, os jogos podem estimular a autonomia e dar aquela sensação de conquista tão importante para o bem-estar emocional.

Não existe uma fórmula única, mas os games certos, na dose certa, podem ser ótimas ferramentas para apoiar o desenvolvimento e o bem-estar de quem vive com TDAH ou autismo.

Limites e cuidados: quando o excesso de jogos vira um problema

Se até Vitamina C em excesso faz mal, por que os games não fariam?

Quando o jogo deixa de ser diversão e começa a tomar conta de tudo, é sinal de alerta. Jogar por horas sem pausa ou sentir irritação só de pensar em parar pode indicar um uso problemático.

Tem gente que diz “ah, mas é só meu jeito de relaxar”. E tudo bem, relaxar é importante!

Mas quando os games começam a virar a única forma de lidar com o estresse, a ansiedade ou a tristeza, é hora de repensar. Até porque, por mais terapêuticos que os jogos possam ser, eles não substituem o acompanhamento profissional quando é o caso.

Jogar é maravilhoso, desde que com consciência, equilíbrio e, de preferência, sem esquecer de levantar para tomar uma água – e esticar as pernas de vez em quando, né?

Saber a hora de pausar é tão importante quanto saber a hora de dar o play.

E se algo estiver difícil demais no mundo real, é preciso buscar ajuda. Os games, ou outra forma de entretenimento, não podem ser uma fuga da realidade.

A visão de quem joga: percepção da comunidade gamer sobre saúde mental

Quem vive o universo dos games sabe que jogar vai muito além da diversão.

Uma pesquisa apresentada no evento Learning Village e divulgada pela Forbes revelou que grande parte da comunidade gamer brasileira já associa os jogos ao bem-estar mental.

Cerca de um terço dos entrevistados disse que joga para manter o cérebro ativo – e aqui que estamos falando de 1.597 pessoas ouvidas em todo o país.

Mais do que isso, os games novamente surgem como espaço seguro para muita gente.

Seja como válvula de escape, meio de socialização ou forma de lidar com o estresse, muitas pessoas encontram nos jogos um cantinho de conforto em meio ao caos da rotina.

Entre jovens de 16 a 26 anos, 42% disseram que os jogos ajudaram a ampliar o círculo de amizades.

Além da conexão emocional, os jogos também criam um senso de comunidade que faz toda a diferença. Encontrar apoio em um clã ou em uma guilda pode ser mais acolhedor do que parece.

Um pouco da minha experiência

Os jogos são parte da minha vida desde que me entendo por gente e, para mim, eles sempre significaram mais do que diversão e entretenimento.

Não estou dizendo que são a solução para tudo, nem que substituem uma boa terapia ou apoio profissional. Mas eles têm um valor real, principalmente quando olhamos para o que sentimos ao jogar e para o que vivemos dentro desses mundos digitais.

Sempre fui – e ainda sou – uma pessoa muito introvertida. Os jogos são uma forma de “ser quem eu gostaria de ser”, como em uma realidade paralela. Uma Giovanna mais corajosa, mais destemida, mais livre.

Entendo que isso não deve ser uma fuga, mas muitas vezes é um conforto. Um respiro.

E mesmo preferindo jogos single player, produzir conteúdo para o Tarde de Games me conectou com muita gente bacana. Conheci pessoas incríveis, troquei ideias, me senti acolhida. E isso também é cuidar da mente.

Por isso, acho que sempre vale abrir esse diálogo, falar mais sobre saúde mental, sobre o que nos faz bem, mesmo que não seja o “convencional”.

Que bom que existem tantas formas de se cuidar – e que bom que, para mim, os games são uma delas.

Mas e você, como enxergar a relação entre os games e a saúde mental? Conta para mim nos comentários!

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Giovanna Coppola
Giovanna Coppola

Uma das minhas memórias mais antigas sou eu com aproximadamente 6 anos deixando o Mega Drive ligado a noite toda porque não podia perder meu progresso em Sonic the Hedgehog. Além de jogos de videogame, sou apaixonada por tecnologia, cultura geek, arte, k-dramas, café, gatos e mais algumas coisinhas.

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