Recentemente, falei aqui no blog sobre as mulheres na tecnologia. Hoje é dia de focar em um universo que amamos ainda mais: as mulheres na indústria dos games.
Mesmo sendo um espaço ainda dominado por homens, há cada vez mais mulheres ganhando destaque, criando jogos marcantes e abrindo caminho para novas vozes no mercado.
Sem querer esgotar a lista, é claro, selecionei alguns nomes importantes que mostram que lugar de mulher também é na criação, no desenvolvimento e na liderança dos games.
17 mulheres que transformaram (e ainda transformam) a indústria dos games
Elas abrem caminhos, desafiam padrões e deixam sua marca em um dos mercados mais criativos do mundo.
Conheça 17 mulheres incríveis que ajudaram, e ainda ajudam, a moldar o universo dos games como o conhecemos.
1. Carol Shaw: primeira designer de todos em tempo integral

Carol Shaw foi a primeira mulher a trabalhar como designer de jogos em tempo integral, um marco importante na história da indústria dos games.
Ela começou sua carreira na Atari, onde criou e programou 3-D Tic-Tac-Toe para o icônico Atari 2600, lá em 1979.
Pouco tempo depois, passou a integrar o time da Activision, uma das grandes empresas da época, onde deixou sua marca com Happy Trails para o Intellivision.
Mas foi com River Raid, desenvolvido para os computadores Atari 8-bit e o Atari 5200, que seu nome se tornou realmente conhecido entre fãs e profissionais da área.
Além desses títulos, Carol também trabalhou no clássico Super Breakout e chegou a desenvolver um jogo de polo, que acabou não sendo lançado.
2. Brittney M. Morris: a narrativa de diversidade nos jogos

Brittney N. Morris é uma autora e designer de narrativa de jogos, reconhecida por seu trabalho em jogos como Subnautica: Below Zero de 2019 e sua recente contratação pela Insomniac para trabalhar em Spider-Man 2, lançado em 2023.
Sua experiência como escritora no universo do Homem-Aranha será enriquecida por seu trabalho anterior no romance prequel Wings of Fury, que aborda a história de Miles Morales.
Além de sua contribuição para os jogos, Morris é autora do romance jovem adulto Slay, que acompanha uma adolescente negra desenvolvedora de jogos enfrentando um troll online.
Sua obra reflete sua dedicação em trazer mais diversidade e representatividade tanto na literatura quanto na indústria dos jogos.
3. Mabel Addis: pioneira na escrita e design de jogos narrativos

Mabel Addis foi a primeira mulher a assumir o papel de designer de videogames, e também a primeira roteirista do gênero.
Em 1964, ela escreveu The Sumerian Game, um jogo criado para o computador IBM 7090 e programado por William McKay.
O projeto, que combinava narrativa com elementos estratégicos, foi super importante para o desenvolvimento dos jogos de gerenciamento de reinos, como Hamurabi, que surgiria anos depois, em 1978, inspirado nesse conceito.
Além de criar o que muitos consideram o primeiro jogo de estratégia, Mabel também ajudou a definir as bases para os jogos baseados em texto, gênero que seria bastante explorado nas décadas seguintes.
Sua contribuição foi essencial não apenas pela inovação tecnológica, mas pelo modo como inseriu enredo e tomada de decisões em um contexto ainda experimental.
Mabel Addis é reconhecida como a primeira escritora de games e a mais antiga designer de jogos de que se tem registro.
4. Danielle Bunten Berry: pioneira dos jogos multiplayer

Danielle Bunten Berry foi uma das grandes mentes por trás da criação de jogos multiplayer nos primeiros anos da indústria.
Mulher trans, em 1983 ela desenvolveu M.U.L.E., considerado um dos primeiros e mais influentes títulos voltados para múltiplos jogadores.
No ano seguinte, lançou The Seven Cities of Gold, outro jogo marcante que combinava exploração e estratégia em um mundo aberto, conceito ousado para a época.
Com uma abordagem inovadora e foco em experiências compartilhadas, seus projetos chamaram a atenção tanto de players quanto da crítica.
Danielle foi homenageada com o Lifetime Achievement Award pela Computer Game Developers Association em 1998. Mais tarde, entrou para o Hall da Fama da Academy of Interactive Arts & Sciences em 2007.
Em 2009, foi eleita uma das 100 maiores criadoras de games de todos os tempos pelo IGN, reforçando o reconhecimento por sua contribuição ao formato multiplayer.
5. Keiko Erikawa: cofundadora da Koei e pioneira do gênero Otome

Keiko Erikawa é uma importante designer de jogos e cofundadora da Koei, uma das maiores desenvolvedoras de games do Japão.
Em 1994, ela deu um passo inovador ao formar a Ruby Party, uma equipe exclusivamente feminina, que desenvolveu Angelique, o primeiro jogo do gênero Otome, voltado principalmente para um público feminino.
Angelique se tornou um sucesso, inaugurando uma nova era de jogos de romance interativos no Japão.
Além de sua carreira no desenvolvimento de jogos, Keiko tem um papel de destaque na Koei Tecmo, onde gerencia os ativos da empresa no Japão, Hong Kong e nos Estados Unidos.
Ela também contribui com ações filantrópicas por meio da Fundação Erikawa Education, que oferece bolsas de estudo para estudantes de famílias lideradas por mães solteiras.
6. Momo Pixel: empoderando jovens negras na indústria de jogos

Momo Pixel é uma designer de jogos conhecida por criar Hair Nah, um jogo premiado que aborda a experiência de uma mulher negra cansada de pessoas tocando seu cabelo.
Com uma narrativa poderosa e envolvente, o jogo se tornou um marco de representação na indústria.
Seu trabalho mais recente é o filtro de jogo AR para o Google Play, chamado Change the Game, que se inspira nos obstáculos enfrentados por jovens negras na indústria de jogos.
Ao transformar esses desafios em uma experiência de jogo, com uma jovem negra como protagonista, Momo Pixel busca inspirar outras garotas a persistirem e se tornarem desenvolvedoras de jogos.
7. Rebecca Heineman: mulher trans, programadora e primeira campeã nacional de videogames

Rebecca Heineman não só foi a primeira campeã nacional de videogames, como também uma das programadoras mais inovadoras da história da indústria.
Ao longo de sua carreira, trabalhou em clássicos como The Bard’s Tale e Myth III: The Wolf Age, além de ser uma das fundadoras da Interplay Productions, uma das maiores desenvolvedoras da época.
Mas o que realmente a torna uma figura marcante é o fato de ser uma mulher trans em uma indústria historicamente dominada por homens cis.
Se já era difícil lidar com preconceitos no início de sua carreira, imagine o que ela passou ao fazer sua transição e continuar liderando com força.
Sua trajetória também nos faz refletir sobre o impacto de representações de gênero no universo dos games, como o caso de Taash, personagem não-binário de Dragon Age: The Veilguard, que gerou tanto desconforto em grande parte da comunidade.
Isso prova que, no fim, as verdadeiras revoluções acontecem fora da zona de conforto de quem se incomoda com a diversidade.
8. Dona Bailey: pioneira na indústria de jogos

Dona Bailey, antes desconhecedora do mundo dos videogames, se tornou uma figura super importante na história do desenvolvimento de jogos.
Em 1980, ela trabalhava na General Motors, até que uma visita a um fliperama a fez se apaixonar por Space Invaders. Encantada pela dinâmica dos jogos, Bailey decidiu mudar de carreira e entrou para a indústria de games, sendo admitida na Atari no mesmo ano.
Junto a Ed Logg, ela co-desenvolveu o icônico Centipede (1980), tornando-se a primeira mulher a criar um jogo para plataformas arcade.
Bailey lembra com orgulho dessa conquista, embora também questione o ambiente predominantemente masculino em que trabalhava:
“Quando saí da Atari, a relação de homens para mulheres era de 120 para 1”.
Mesmo após sua saída da indústria, ela permanece uma defensora da maior presença feminina no setor. Para ela, é absurdo o fato de que as mulheres precisem lutar por alguma coisa em vez de simplesmente serem habilitadas a trabalhar.
9. Amy Hennig: mestre da narrativa nos games

Amy Hennig é uma das grandes figuras por trás de algumas das histórias mais envolventes dos videogames.
Ela começou sua carreira na indústria trabalhando no Nintendo Entertainment System, mas foi na Crystal Dynamics, com a série Legacy of Kain, iniciada em 1996, que encontrou sua verdadeira marca.
A escritora e diretora também foi fundamental na franquia Jak and Daxter, mas seu maior reconhecimento talvez seja pela criação de Uncharted, uma das franquias mais icônicas da história dos games.
Seu trabalho não se destaca apenas pela criatividade, mas também pela maneira como ela transformou a narrativa dos jogos, especialmente na série Uncharted, fazendo com que eles se tornassem tão imersivos quanto um filme.
10. Manami Matsumae: a compositora que definiu o som dos games

Manami Matsumae é uma das compositoras mais reconhecidas na história dos videogames, sendo a mente por trás da trilha sonora de Mega Man, incluindo o inesquecível “Game Start”.
Trabalhando na Capcom nos anos 80, com jogos como Dynasty Wars e Magic Sword, ela se tornou uma das pioneiras da música nos jogos.
Depois de sair da Capcom, seguiu carreira solo, compondo para títulos como Jade Cocoon 2 de 2001 e Shovel Knight de 2014.
11. Joelle Silverio: primeira mulher afro-americana a liderar o desenvolvimento de um jogo AAA

Joelle Silverio foi a primeira mulher afro-americana a liderar o desenvolvimento de um jogo AAA com seu trabalho em Killing Floor 2, lançado em 2016 pela Tripwire Interactive.
Ela começou sua carreira na Hi-Rez Studios, passando por jogos como Tribes: Ascend (2012) e SMITE (2014).
Hoje, Joelle Silverio atua como Principal Game Designer no estúdio People Can Fly, onde é especializada no design de gameplay, mecânicas de combate e sistemas, cuidando desde a sensação momento a momento até os frameworks que sustentam toda a experiência do jogo.
12. Kim Swift: uma mente criativa que transformou a indústria

Kim Swift é uma das designers de jogos mais reconhecidas do mundo, famosa por seu trabalho em Portal de 2007 e Left 4 Dead de 2008 na Valve.
Com uma abordagem inovadora e uma visão única, ela se destacou rapidamente e foi reconhecida como uma das figuras mais influentes na indústria de jogos.
Swift é vista como uma artista que não apenas cria jogos, mas também impulsiona a evolução do meio.
Sua carreira é um exemplo claro de como criatividade e inovação podem mudar o cenário dos jogos, e se tornar ainda mais rico com a presença das mulheres.
13. Rieko Kodama: pioneira da Sega e defensora do respeito no design de jogos

Rieko Kodama é uma das figuras mais influentes e respeitadas na indústria de videogames, com uma carreira impressionante que começou na Sega em 1984.
Conhecida por seu trabalho em títulos icônicos, ela foi uma das responsáveis por dar vida à série Phantasy Star, Skies of Arcadia (2000), o reboot de Altered Beast (2005) e por contribuir com as histórias do nosso lendário ouriço azul, Sonic the Hedgehog.
Kodama, que também assina muitos de seus trabalhos sob o pseudônimo Phoenix Rie, se destaca não apenas pelo seu talento artístico e de direção, mas também por ser uma das primeiras mulheres a se destacar em um setor predominantemente masculino.
Sua postura cuidadosa e ética ao desenvolver jogos foi evidenciada em uma entrevista de 2006, quando afirmou:
“Não quero incluir características que desrespeitem as mulheres em meus jogos. Sou cuidadosa para não desrespeitá-las.”
Seu trabalho continua sendo uma referência no desenvolvimento de jogos que priorizam a inclusão e o respeito.
14. Joyce Weisbecker: pioneira e criadora de jogos

Joyce Weisbecker foi a primeira mulher a projetar jogos comerciais, abrindo caminho para outras mulheres na indústria.
Em 1976, ela desenvolveu diversos jogos para o console RCA Studio II, incluindo o TV Schoolhouse I, um quiz pago a $250.
Conhecida por sua habilidade em programação, Weisbecker trabalhou como contratada independente, o que a faz se considerar a primeira desenvolvedora indie.
Ela enfrentou desafios como a exibição gráfica limitada do Studio II, mas superou obstáculos para criar jogos como Speedway/Tag em 1977.
Embora o console tenha sido um fracasso comercial, sua contribuição deixou uma marca importante na história dos videogames.
15. Christina “Phazero” Curlee: designer de jogos afro-americana e pesquisadora com impacto no setor

Christina “Phazero” Curlee é uma designer de jogos e pesquisadora afro-americana que trabalha na Insomniac Games, famosa pelos jogos Ratchet and Clank: Rift Apart lançado em 2021, Spider-Man 2 lançado em 2023 e Wolverine, ainda em desenvolvimento.
Curlee é autora da tese de mestrado Meaningful Level Design, que explora a relação entre design de níveis, jogabilidade e engajamento emocional.
Ela é super conhecida no mundo dos games — já foi embaixadora da International Game Developers Association e lançou o jogo Artifacts II – Jacaranda em 2020, que ainda apareceu no IndieCade.
Com uma carreira crescente, Christina também atua como professora adjunta na UCLA, onde compartilha seu conhecimento sobre design de jogos.
16. Siobhan Reddy: quebrando barreiras para as mulheres na indústria de jogos

Siobhan Reddy, diretora de estúdio da Media Molecule, é uma das figuras mais influentes no setor de desenvolvimento de jogos.
Nascida na África do Sul e criada na Austrália, Reddy se mudou para o Reino Unido aos 18 anos e começou sua carreira na indústria de jogos na Perfect Entertainment.
Em 2006, ela se juntou à Media Molecule, sendo fundamental na criação da série LittleBigPlanet, iniciada em 2008.
Além de sua grande contribuição para a empresa, ela é uma defensora ativa da diversidade, sempre buscando criar ambientes de trabalho inclusivos.
Em 2021, foi incluída na lista das 100 Mulheres da BBC, em reconhecimento ao seu trabalho de promover a igualdade no setor.
17. Mattie Brice: a voz de diversidade e inclusão nos jogos

Mattie Brice, uma mulher trans multirracial, se destacou ao criar Mainichi (2012), um jogo inovador que retrata as experiências cotidianas de uma mulher negra trans.
Com um sólido background acadêmico em Literatura, Estudos de Gênero e Direitos Humanos, ela tem desafiado as definições tradicionais de jogos, promovendo mecânicas que refletem experiências marginalizadas.
Mainichi foi exibido no Museum of Design Atlanta e no IndieCade 2013, marcando uma presença significativa de pessoas LGBTQIAPN+ na indústria de jogos.
Além disso, Mattie é consultora e palestrante em conferências como o Game Developers Conference e o IndieCade, e atualmente leciona na Universidade da Califórnia, Santa Cruz.
A revolução já começou e tem nome de mulher
Elas não só estão presentes, como estão liderando, criando e transformando tudo.
Não se trata mais de provar que mulher pode trabalhar com games — isso a gente já sabe. Agora é sobre ocupar espaços, contar novas histórias e mudar as regras do jogo.
A indústria dos games não é mais a mesma e muito do que vivemos hoje tem a ver com nomes importantes como os que citei aqui.
Quem é que disse que esse jogo não é pra gente? 😉